O som da vida

O som da vida

por Lucélia Gomes

Você pode me ler,

mas ao reler encontrará novos detalhes.

Assim é a vida movida por rimas e balançada aos compassos.

E eu vou aprendendo a equilibrar meu eu e o antigo eu,

mas tudo faz parte do que sou,

e da completude do que serei.

Estou aprendendo a viver:

Viver é movimento,

E é lindo quando a gente aprende

a harmonizar nossos passos

com a trilha sonora da nossa jornada.

Afinal, é no render-se a nossa mais íntima essência

que deixamos de ser o que somos

E renascemos,

agora compondo uma nova canção,

nas pautas já povoadas do que chamamos de vida.

É bem verdade que passei boa parte da minha vida

lutando para não sair do meu lugar seguro,

o mundo que eu conhecia.

Mas não há ambiente mais inseguro

do que a estagnação.

E como é bom poder sentir

até mesmo as sensações que eu não queria.

Pois vulnerável posso vivenciar a surpresa, o deslumbramento.

Coisas que não vivia enquanto me preocupava (incompetentemente)

em prever cada situação que poderia viver,

para antecipadamente me proteger do sofrimento.

Tudo isso era ilusão,

porque viver é caminhar

e prosseguir.

Sempre e intensamente vivenciando

cada alegria e desventura da estrada.

Mas se estou parada

o que posso escutar

é a voz longínqua dos que prosseguiram

e o murmúrio dos que ficaram.

E em harmonia esses sons ecoam

o canto fúnebre dos que não ousaram viver.

Mas agora não habito mais nesse lugar.

E sigo compondo um folguedo para embalar minha jornada.

E viverei o que me foi proposto viver.

Sem ignorar as dores, perdas, aprendizados e alegrias

desenhados na estrada.

Posso ouvir o som do meu casulo se rompendo,

Enquanto sou levada pelo vento.

E o vento sopra onde quer.

Não sabemos pra onde vai,

nem sabemos de onde vem.